O Mundo, por Dr. Hemógenes J. Nicodemos

Tuesday, January 30, 2007

Censura pode ser algo bom?

Acabei de ler no Slashdot que um senador na Geórgia propõe que os pais tenham de autorizar cadastros feitos por menores em sites de redes sociais do estilo do Orkut.

Restrictions On Social Sites Proposed In Georgia
http://yro.slashdot.org/yro/07/01/29/2314253.shtml

Parece lógico, pois os adolescentes, ao menos no Brasil, simplesmente não conseguem usar essas redes para fazer qualquer coisa que se aproxime do útil. Em vez disso, estão investindo tempo em desaprender a escrever, bisbilhotar a vida dos outros e expor-se desnecessariamente.

Igualmente lógico é o fato de que isso é censura, algo que muito poucos seriam capazes de defender. Porém, é o mesmo tipo de censura que impõe limite mínimo de idade para assistir a determinados filmes.

Enfim, o assunto dá muito mango para a pana. Ou algo parecido.

Thursday, January 25, 2007

Babel

Hoje assisti a um dos indicados ao Oscar de Melhor Filme, Babel. Em uma palavra: boring!

Sunday, January 21, 2007

Uma verdade inconveniente

Ontem finalmente assisti ao documentário do "ex-futuro presidente dos EUA" Al Gore, Uma Verdade Inconveniente (An Inconvenient Truth, no original).

A primeira coisa a dizer sobre o filme é que ele é obrigatório. Todos deveriam ver. Deveriam ser instalados telões em todas as ruas do planeta passando o documentário ininterruptamente. Talvez a inércia fizesse não apenas a informação entrar nos cérebros teimosos, como também motivasse as pessoas a tirar o traseiro da frente da TV e começar a fazer algo para mudar o cenário pessimista instalado em frente a nossos narizes.

O site a seguir tem várias imagens de gráficos e fotos apresentados no filme:
http://staffwww.fullcoll.edu/tmorris/an_inconvenient_truth/an_inconvenient_truth.htm
Se você não estiver disposto a assistir a Uma Verdade Inconveniente, vale a pena investir alguns minutos analisando esses dados. Talvez isso o convença a procurar pelo filme nos cinemas ou na locadora mais próxima, quando estiver disponível.

Se eu não consegui convencê-lo ainda, talvez Michael Shermer consiga. Para quem não sabe, Shermer é divulgador e historiador da ciência, fundador da The Skeptics Society (A Sociedade dos Céticos) e editor da revista Skeptic. Há uns 9 anos li um livro excelente dele, chamado Why People Believe Weird Things (não sei se foi lançado em português, li no original). Para saber mais sobre o autor, Wikipedia.

Pois bem, agora que vocês foram apresentados, confira o que Shermer tem a dizer sobre o assunto:
http://www.sciam.com/article.cfm?chanID=sa006&colID=13&articleID=000B557A-71ED-146C-ADB783414B7F0000

Shermer costumava ser cético sobre o assunto do aquecimento global. Considerava que havia muito alarmismo, muito ecoterrorismo e pouca ciência nessa "batalha". Ele mudou de idéia. Eu mudei de idéia. Mude você também.

O site do filme tem muita coisa que vale a pena conferir:
http://www.climatecrisis.net/

Se, depois de tudo isso, você continua cético (pois é, ceticismo nem sempre é saudável, não é mesmo?) sobre o assunto, se ainda acha que o aquecimento global nada tem a ver com a ação humana, que é um evento cíclico e natural, então só posso dizer uma coisa. A redução nas emissões de carbono é como evitar passar por baixo da escada. Mesmo que você não seja supersticioso (e de fato superstição é sinônimo de burrice mesmo, mas sobre isto escrevo outro dia), mal não faz desviar a escada em vez de passar por baixo. Passar por baixo pode não dar azar, mas você pode bater a cabeça sem querer. Enfim, meu ponto é: mesmo que você realmente acredite que os níveis atuais de emissões de carbono são inofensivos, não custa nada fazer sua parte para reduzir a sua parte de contribuição.

Saturday, January 20, 2007

Ghost in the machine

Recomendação do meu amigo Phabee Yo.

http://en.wikipedia.org/wiki/Ghost_in_the_machine

Thursday, January 18, 2007

Abaixo a meia entrada para estudantes

Estou farto de viver no país do "jeitinho", então vou começar a reclamar até vencer o sistema pelo cansaço. Desconfio que me cansarei antes de cansar o sistema, mas ainda assim reclamarei.

O verbete "jeitinho" (também famoso como "jeitinho brasileiro") é o nome fantasia de uma mazela que assola o Brasil provavelmente desde o descobrimento, a qual tem o seguinte nome científico: pensandum levaren vantajus, fodum tuto mundi e a mi mesmum. Uma das mais recentes e cada vez mais comuns manifestações do jeitinho são as falsificações de carteiras de estudante visando ao pagamento de apenas metade do valor do ingresso para shows, cinemas, teatro, etc. Mas antes de me aprofundar aqui, abrirei um parênteses para falar sobre o totalmente imbecil conceito da meia entrada.

Em que pesem todas as manifestações de direitos humanos/constitucionais tentando nos fazer crer que somos todos iguais, a própria lei, em espírito e letra, trata de nos mostrar a realidade. Um exemplo claro disto é a atual onda de criações de cotas em universidades, mas sobre este assunto escrevo em outro momento. Outro exemplo foi a "bem-intencionada" criação da meia entrada para estudantes em atrações culturais.

O argumento é válido, difícil de rebater, bonito na foto. Quem seria capaz de dizer que não concorda que os estudantes tenham acesso à cultura? Afinal, a cultura ajuda a formar cidadãos, e que país não almejaria ter cidadãos bem-formados? Ótimo. Como então garantir o acesso dos estudantes menos abastados à cultura? A canetadas, que é como se faz por aqui. Criam-se leis e do dia para a noite os estudantes têm direito a pagar metade do preço em qualquer atração cultural. Como provam que são estudantes? Basta mostrar a carteirinha ou crachá da instituição de ensino no momento da compra. Tudo muito simples, justo, bonito. Viva a legislação brasileira protegendo os interesses da população.

Esse raciocínio simiesco não resiste nem à mais superficial das análises. Primeiro, porque parte do pressuposto de que todos os jovens estudantes brasileiros se interessam por cultura. Segundo, porque parte do pressuposto de que todos os shows, filmes, peças de teatro são cultura, o que obviamente é falso. Terceiro, porque parte da premissa utópica de que essa forma de controle - carteirinhas e crachás - tem como funcionar no país do jeitinho.

Há um outro problema aí. Quem disse que os estudantes são melhores que os outros seres humanos? Por que eles podem pagar metade e um cientista, por exemplo, tem de pagar 100%? Só porque estão no período de "formação"? Mas um estudante de Biologia com 40 anos, fazendo sua segunda faculdade apenas por hobby, também tem direito à meia entrada. Ele está em formação?

Mais um problema. Suponha que você seja um empresário disposto a bancar um cachê zilionário para trazer o Pink Floyd ao Brasil. Sabendo que como resultado da decisão política que criou a meia entrada haverá um número imprevisível de pessoas pagando metade do preço, como você calcularia o preço do ingresso para ter lucro? Exemplo: supondo que o custo todo do processo (cachês, propaganda, infra-estrutura, etc.) seja de 3 milhões de reais e o número de lugares disponíveis no estádio escolhido para o show seja de 100 mil. Para empatar, você teria de vender todos os 100 mil ingressos a 30 reais cada. Para ter um lucro de 10% (qualquer um vai querer lucrar mais que isso, mas suponha que você seja altruísta, ou simplesmente meio boboca), você tem de vender todos os ingressos a 33 reais cada. Sabendo que um número X de pessoas, que varia de 0 a 100 mil, vai pagar metade, quanto você cobra pelo ingresso? Acho que 99,9% dos empresários cobrariam 66 reais. Naturalmente, o mesmo raciocínio vale para cinema, teatro, etc.

E, como o assunto deste post era o jeitinho, chegamos ao ponto que gera minha indignação. Não é preciso ter mais neurônios que uma anêmona para concluir que, num país onde toda regra só existe para ser burlada por pessoas que se acham espertas e só respeitam mesmo as leis de Murphy, da Gravidade e de Gerson, um sistema de controle tão frágil vai falhar completamente. Qualquer um com uma câmera digital, uma impressora e um computador faz uma carteirinha de estudante de, digamos, Engenharia dos Rios Marítimos na Universidade da Astrologia Islâmica. Provavelmente ninguém jamais conseguirá os dados exatos, mas aposto que o número de carteiras de estudante frias já é maior que o de carteiras reais. O triste é ver marmanjos de 23, 25, 30 anos de idade, já formados (e até pós-graduados), empregados e ganhando bem, produzindo para si carteiras de estudante falsas. Mas mais triste ainda é perceber que, infelizmente, eles estão certos, porque afinal "o sistema é que é estúpido, pagar o valor inteiro é para os trouxas"; eles, que são "espertos", vão pagar metade.

Como creio ter provado, ninguém paga metade. Alguns - os trouxas como eu, que por princípios não conseguem apresentar um documento falso para obter vantagem - pagam o dobro. Já os espertos pagam o valor real. E, como de costume, acham ingenuamente que realmente estão levando alguma vantagem, quando tudo o que conseguem é inviabilizar de novo o sistema.

Saturday, January 06, 2007

Código da Vinci - Erudição de araque

Ontem tive a oportunidade de assistir ao filme Código da Vinci, baseado em livro homônimo de Dan Brown, o qual ainda não li. Mas falarei também sobre o livro assim mesmo. É preconceito, sim. E daí?

A primeira coisa a lembrar sobre o filme Código da Vinci, antes de criticá-lo, é que se trata de conteúdo direcionado ao público de um livro bestseller. Opa! Por definição, livros não são populares. O formato é chato para 90% dos seres humanos (talvez eu esteja sendo gentil demais). Só tem letrinhas pretas em páginas brancas que não acabam mais. E 90% dos seres humanos nem sabem ler (muitos até acham que sabem, mas não entendem realmente o que lêem, então são ainda mais analfabetos do que aqueles que não aprenderam a ler). Como um livro que se pretende profundo, com intrigas que incluem Cavaleiros Templários, a vida de Jesus, números de Fibonacci, a obra de Da Vinci, Isaac Newton, etc., pode se tornar best-seller? Certamente não é sendo rico em informações, detalhes e informações verídicas para ensinar o leitor. Se fosse, o Pêndulo de Foucault de Umberto Eco teria sido o livro mais vendido na história do universo.

O que isso quer dizer, em resumo, é que a nivelação obrigatoriamente foi feita por baixo, daí por que o livro agrade a tanta gente, em que pese seu conteúdo ser profundo como uma poça d'água. Ele pseudoinforma e deixa as pessoas pensarem que ficaram mais cultas, e isso as deixa felizes. Quem poderia exigir mais que isso?

Isso não quer dizer que o livro ou o filme sejam ruins. Sobre o livro não posso falar, mas o filme é, sim, boa diversão. Não pode é ser considerado como mais do que ele é: uma obra de ficção que não está entre as 100 melhores de todos os tempos.

O filme tem coisas boas. O elenco é de primeira linha. Tom Hanks empresta uma credibilidade impressionante a seu personagem, assim como o ótimo Ian McKellen. Jean Reno e Alfred Molina também fazem suas partes com competência, e Paul Bettany, até então para mim desconhecido, é excelente no papel de vilão. Esperava mais de Audrey Tautou, no entanto. Ela fica muito melhor quando fala francês. Não chega a comprometer nada, mas acho que ela atingiu o ápice de sua carreira muito cedo (acho que ela vai ser Amélie Poulain para sempre).

A direção de arte é muito boa, bem como a escolha dos locais onde foram feitas as principais tomadas do filme (ok, o filme simplesmente segue a história do livro, mas isso não torna menos legal ver o Louvre, por exemplo).

Onde o filme peca é justamente onde não poderia, que é o enredo. Fica nítido que Dan Brown construiu sua história com base em conteúdo de revistas no nível da Superinteressante, e não de enciclópedias. Até imagino seu processo criativo. Um belo dia ele abre uma revista dessas e lê sobre a seqüência de Fibonacci. "Legal", pensa ele, "vou usar isso na minha história". O conteúdo parece mais jogado no enredo do que efetivamente pesquisado a fundo. Como qualquer best-seller, não tem realmente muito o que ensinar, por mais que cumpra bem sua função de entreter. De novo, nada de errado com isso. Erradas estão as pessoas que dão à coisa uma aura mística, sobrenatural, conspiratória.

A polêmica em torno dos descendentes de Jesus também não chega a acrescentar nada além do que J. J. Benítez e José Saramago fizeram muito antes de Brown, e nem eles foram inéditos. Essa parte do filme serve mais para os bobões discutirem questões supérfluas - IRRELEVANT, diria meu sapo - e comentarem com outros bobões, que assim vão gastar seu dinheiro para também assistir ao filme para poder comentar com outros bobões. É tão fácil ganhar dinheiro!

Mais um ponto positivo para o filme: me senti jogando um dos antigos e bons jogos da LucasArts. O clima é bem Adventure Game, com pistas a encontrar, pessoas a interrogar e todo o pacote. Como eu disse, como entretenimento ele funciona bem.

Mas é impossível não citar novamente o Pêndulo de Foucault, este sim um grande livro, rico em informações relevantes, que, além de entreter, realmente tem o que ensinar. Mas é pedir demais que o público médio consiga passar da 50ª página, não é mesmo?