O Mundo, por Dr. Hemógenes J. Nicodemos

Saturday, January 06, 2007

Código da Vinci - Erudição de araque

Ontem tive a oportunidade de assistir ao filme Código da Vinci, baseado em livro homônimo de Dan Brown, o qual ainda não li. Mas falarei também sobre o livro assim mesmo. É preconceito, sim. E daí?

A primeira coisa a lembrar sobre o filme Código da Vinci, antes de criticá-lo, é que se trata de conteúdo direcionado ao público de um livro bestseller. Opa! Por definição, livros não são populares. O formato é chato para 90% dos seres humanos (talvez eu esteja sendo gentil demais). Só tem letrinhas pretas em páginas brancas que não acabam mais. E 90% dos seres humanos nem sabem ler (muitos até acham que sabem, mas não entendem realmente o que lêem, então são ainda mais analfabetos do que aqueles que não aprenderam a ler). Como um livro que se pretende profundo, com intrigas que incluem Cavaleiros Templários, a vida de Jesus, números de Fibonacci, a obra de Da Vinci, Isaac Newton, etc., pode se tornar best-seller? Certamente não é sendo rico em informações, detalhes e informações verídicas para ensinar o leitor. Se fosse, o Pêndulo de Foucault de Umberto Eco teria sido o livro mais vendido na história do universo.

O que isso quer dizer, em resumo, é que a nivelação obrigatoriamente foi feita por baixo, daí por que o livro agrade a tanta gente, em que pese seu conteúdo ser profundo como uma poça d'água. Ele pseudoinforma e deixa as pessoas pensarem que ficaram mais cultas, e isso as deixa felizes. Quem poderia exigir mais que isso?

Isso não quer dizer que o livro ou o filme sejam ruins. Sobre o livro não posso falar, mas o filme é, sim, boa diversão. Não pode é ser considerado como mais do que ele é: uma obra de ficção que não está entre as 100 melhores de todos os tempos.

O filme tem coisas boas. O elenco é de primeira linha. Tom Hanks empresta uma credibilidade impressionante a seu personagem, assim como o ótimo Ian McKellen. Jean Reno e Alfred Molina também fazem suas partes com competência, e Paul Bettany, até então para mim desconhecido, é excelente no papel de vilão. Esperava mais de Audrey Tautou, no entanto. Ela fica muito melhor quando fala francês. Não chega a comprometer nada, mas acho que ela atingiu o ápice de sua carreira muito cedo (acho que ela vai ser Amélie Poulain para sempre).

A direção de arte é muito boa, bem como a escolha dos locais onde foram feitas as principais tomadas do filme (ok, o filme simplesmente segue a história do livro, mas isso não torna menos legal ver o Louvre, por exemplo).

Onde o filme peca é justamente onde não poderia, que é o enredo. Fica nítido que Dan Brown construiu sua história com base em conteúdo de revistas no nível da Superinteressante, e não de enciclópedias. Até imagino seu processo criativo. Um belo dia ele abre uma revista dessas e lê sobre a seqüência de Fibonacci. "Legal", pensa ele, "vou usar isso na minha história". O conteúdo parece mais jogado no enredo do que efetivamente pesquisado a fundo. Como qualquer best-seller, não tem realmente muito o que ensinar, por mais que cumpra bem sua função de entreter. De novo, nada de errado com isso. Erradas estão as pessoas que dão à coisa uma aura mística, sobrenatural, conspiratória.

A polêmica em torno dos descendentes de Jesus também não chega a acrescentar nada além do que J. J. Benítez e José Saramago fizeram muito antes de Brown, e nem eles foram inéditos. Essa parte do filme serve mais para os bobões discutirem questões supérfluas - IRRELEVANT, diria meu sapo - e comentarem com outros bobões, que assim vão gastar seu dinheiro para também assistir ao filme para poder comentar com outros bobões. É tão fácil ganhar dinheiro!

Mais um ponto positivo para o filme: me senti jogando um dos antigos e bons jogos da LucasArts. O clima é bem Adventure Game, com pistas a encontrar, pessoas a interrogar e todo o pacote. Como eu disse, como entretenimento ele funciona bem.

Mas é impossível não citar novamente o Pêndulo de Foucault, este sim um grande livro, rico em informações relevantes, que, além de entreter, realmente tem o que ensinar. Mas é pedir demais que o público médio consiga passar da 50ª página, não é mesmo?

5 Comments:

Blogger THE MEGAFUTURE BLOG said...

Se o filme é diversão barata, porque o livro não pode ser também? Não estou defendendo do tal Brown, até porque nem o filme suportei - dormi antes dos 20 primeiros minutos. Mas assim como nem todo filme precisa ser o Imperio Contra Ataca, nem todo livro precisa ser o Pendulo, para ficar no seu favorito.

1:26 PM  
Blogger Dr. Hemógenes J. Nicodemos said...

Prezado Carlos Alberto,
Perdoe-me, talvez eu não tenha sido claro. Quando eu falei que o filme funciona como entretenimento, quis dizer que a história funciona como tal, e então isso seria válido também para o livro.

11:47 PM  
Anonymous Anonymous said...

O pior de toda essa história do Código da Vinci é a enxurrada de livros sobre assuntos inúteis que invadem as livrarias. Coisas como o "Manual do Priorado de Sião" e "A Verdade sobre o Tesouro dos Templários". Que saco.... de repente, parece que todos se interessaram nos templários e vão buscar informações sobre os ditos nas fontes menos confiáveis possíveis... O problema do Livro é o que as pessoas quiseram fazer dele, ou seja. algo maior do que um romance desses do Sidney Sheldon ou Fredericik Forsythe, coisa que, em momento algum, ele deveria aspirar. Encarando o livro - e o filme - como diversão barata, fica mais fácil atribuir o devido valor.

9:49 AM  
Anonymous Anonymous said...

Primeiramente gostaria de dizer que estava com saudades dos seus textos, por isso, escreva mais para o deleite dessa namorada saudosa.
O que realmente assusta eh que as pessoas estao saindo por ai contando das "verdades" que a igreja escondeu por tanto tempo e que o livro trouxe a tona. Ficcao? Vai falar isso para 90% das pessoas que leram o livro.
As pessoas, quase generalizando, querem e precisam da grande noticia, da grande novidade, algo que faca com que as coisas mudem radicalmente nas suas vidas medianas. Podemos culpa-las? Todos nos gostamos de futilidades travestidas de cultura...

8:45 AM  
Anonymous Anonymous said...

O livro não chega a ser ruim. Tem uma leitura fácil, mas é menos superficial do que, digamos, Harry Potter (esse sim, não li e não gostei). Tem um "que" de suspense que prende a atenção, além de fazer uma compilação - que é quase um plágio - de estudos sobre a obra de Da Vinci. Aliás, ele inteiro é quase um plágio de estudos mais ou menos sérios de assuntos que intrigam a humanidade desde a virada do milênio.

Quanto ao filme, o melhor dele é sem dúvida a Amelie Poulan, se é que me entendem.

6:20 PM  

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