O Mundo, por Dr. Hemógenes J. Nicodemos

Friday, April 20, 2007

Abaixo a meia-entrada para estudantes - parte 2

A Folha de São Paulo de ontem trouxe uma matéria com o seguinte título: "Rede Cinemark quer limitar a venda de meia-entrada no país". Pelo jeito, minha luta solitária não é mais tão solitária. Palmas para a Cinemark!

Segundo os exibidores, diz a matéria, 70% dos ingressos de cinema são vendidos pela metade do preço cheio. Ninguém precisa ser matemático para concluir que a situação é absurda e insustentável.

Os empresários estão tentando minimizar o prejuízo aumentando a fiscalização, para impedir que os "espertos" com carteira de estudante falsa comprem ingressos pela metade do preço. Mas, na minha opinião, o melhor a fazer seria simplesmente lutar para acabar com esse privilégio tolo. Preço justo e igual para todos, este é o caminho correto.

O executivo diz exatamente o que eu escrevi no meu post anterior sobre este tema: a impossibilidade de prever o número de estudantes faz os empresários jogarem o preço da entrada inteira para cima. Não existe almoço grátis.

A grande verdade é que o Legislativo brasileiro adora criar leis para interferir no mercado. Ruim para todo mundo. Pior ainda para os honestos. É duro viver no país da malandragem...

Thursday, April 12, 2007

A morte do subjuntivo

Chamem os médicos! O subjuntivo está morrendo!

A notícia é digna dos mais mórbidos tablóides e programas de televisão estilo Cadeia. Exceto pelo fato de que ninguém parece se importar. Ou será que ninguém percebe?

Cada vez mais ouço pessoas - e o que me assusta é que a lista inclui muitas pessoas "instruídas" - trocarem o presente do subjuntivo pelo presente do indicativo (sem titubear, psicopatas de sangue frio!) em frases como:

- Você quer que eu vou lá?
- O chefe quer que você liga a impressora.
- Quer que eu te conto um segredo?

Sou só eu ou alguém aí também acha isso horrendo?

Friday, April 06, 2007

Será que agora vai?

Esta semana li no jornal O Globo uma matéria sobre o novo recorde mundial de velocidade sobre trilhos. Um TGV francês cravou 574,8 km/h.

Como sou defensor há tempos de usar trens de alta velocidade como solução para o transporte de passageiros no Brasil, principalmente depois do início dessa palhaçada que chamamos de "apagão aéreo", imediatamente após ler a matéria decidi escrever aqui sobre a possibilidade de o Brasil investir na construção de uma linha férrea para trens rápidos ligando Rio e São Paulo, o que resolveria o problema nos aeroportos, já que a ponte aérea é a principal responsável pela saturação no sistema. Agora, buscando no Google dados sobre porcentagem de vôos de ponte aérea em relação ao total de vôos no país, encontrei algo que me deixa otimista. Parece que finalmente a coisa vai sair do papel. Matéria da Reuters publicada no UOL anteontem põe o projeto já em termos de "quando", e não "se" vai ser realizado.

Ora, 85 minutos de viagem de trem entre Rio de Janeiro e São Paulo é menos do que um avião consegue fazer (mesmo que o vôo não tenha nenhum atraso, o que é praticamente uma utopia). Como as companhias aéreas exigem que você esteja no aeroporto com no mínimo 30 minutos de antecedência (na verdade elas pedem uma hora, mas vamos considerar o mínimo aceitável) e o vôo dura 45 minutos, mais uns 15 minutos (previsão muito otimista) que você perde entre embarque, decolagem, pouso e desembarque, o tempo total da viagem de avião nunca será menor que 90 minutos. Insisto: isso considerando que não há atraso nenhum, em nenhuma etapa do processo, o que a prática prova que não acontece.

O trem tem ainda muitas vantagens: não tem turbulência, você pode se levantar a qualquer momento, pode caminhar, pode ir ao vagão restaurante e ter uma refeição decente, pode chegar apenas 30 segundos antes do horário de partida sem se estressar com overbooking, e por aí vai.

Eu realmente espero que desta vez o trem bala brasileiro saia do papel. Afinal, se já temos tantas balas no país, a ponto de muitas ficarem perdidas por aí, já é hora de termos um trem bala. (Ok, este último parágrafo foi cretino, hehehe!)

Monday, April 02, 2007

Bolívia, essa terra de bolivianos

Tendo recém retornado da Bolívia, mais precisamente da maior cidade do país - Santa Cruz de la Sierra -, posso dizer com certeza: preconceitos não servem para nada. Impressionante como a imagem que eu tinha da cidade não correspondia em nada ao que encontrei. Segue a seguir um breve resumo do que vi.

A chegada ao aeroporto é um pouco assustadora. Parece mais uma rodoviária, e todas as pessoas se parecem com o Evo Morales. Você passa por um e pensa: que país seguro, o presidente pode andar tranqüilamente sem seguranças. Logo depois você passa pelo Evo novamente e pensa: nossa, o sujeito é muito rápido, acabei de passar por ele e ele está na minha frente de novo. Mas aí você passa por um Evo vestido de mulher e percebe que se enganou, na verdade os bolivianos são mesmo quase todos iguais (o que mais tarde você percebe que não é verdade, e que realmente preconceito é bobagem).

A primeira coisa a fazer é trocar dólares por bolivianos (não, eles não trocam dinheiro por gente; boliviano é o nome do dinheiro da Bolívia). Cem dólares devem bastar, você pensa. Nada menos que 800 bolivianos! Estou rico, você pensa. Então você sai do aeroporto e pega um táxi. E percebe que está muito mais rico do que imaginara, quando o taxista diz o preço da corrida até o hotel: 50 bolivianos. Primeiro você pensa: minha nossa, que caro. Mas aí faz a conversão e percebe que estamos falando de 13 reais. E isso para algo como cruzar a cidade.

O mais estranho no táxi não é o fato de que você não entende uma palavra do que o taxista lhe diz, apesar de ele acreditar estar falando espanhol. Não, de longe o mais estranho e olhar para a frente e perceber que o volante está de um lado e o painel, do outro. É um dos "transformados": táxis que eram originalmente carros japoneses (o Japão usa a mão inglesa, portanto o motorista dirige no lado "errado") que foram importados usados em alguma bagatela e depois tiveram seus volantes e pedais reinstalados no lado que deveria ser do passageiro. O painel, no entanto, continua no lado onde foi montado, com um buraco no meio (que acaba fazendo papel de porta-luvas).

No caminho, o trânsito um tanto caótico e as casas simples o deixam apreensivo. Quando será que a cidade vai chegar?, você pensa. Mas não, aquela não é a periferia. A cidade é assim mesmo. Onde estão os prédios? Quase não há. Onde estão os semáforos? Quase não há. E chega o hotel. É bem ajeitado, e você começa a ver pessoas que não se parecem nada com o Evo Morales. A região toda é mais interessante; o hotel fica num bairro chamado Equipetrol, que visivelmente é de classe média alta.

Na primeira noite não saí do hotel. No dia seguinte, após as obrigações, fui almoçar num restaurante de comida típica boliviana, chamado La Casa del Camba. Para iniciar, uma bebida típica: chicha, bebida doce não-alcoólica à base de milho. Lembra (bem pouco) caldo de cana, muito boa. Para comer, majao (arroz tostado e carne seca) e majadito (arroz con pato). Vieram ainda pratos com galinha apimentada (picante de pollo), carne bovina, mandioca (yuca) frita e batata desidratada com queijo. Tudo delicioso! E muito barato.

Após o almoço, um passeio pelo Centro da cidade. Se não tivessem me dito que era o Centro, eu não perceberia. Tudo muito simples, nada parecido com o Centro de qualquer outra cidade desse porte que eu já tenha visto. Depois passei pela praça 24 de Setembro, ou alguma data parecida, e por uma feira de produtos típicos, onde velhinhas com cara de uva passa são o que mais chama a atenção, no bom sentido!

À noite, após o trabalho, jantei em um restaurante na movimentada avenida Monseñor Rivero, que tem muitos e bons restaurantes e cafés. Não me lembro do nome do restaurante onde jantei, mas sei que comi carne excelente (e em grande quantidade!) por um preço muito bom. Depois da janta, uma parada no café Alexander (achei uma foto dele e de outros pontos da cidade neste blog; eu, infelizmente, não estava com minha câmera), na mesma avenida.

E nada de Evos Morales por aqui. Muita gente bonita, por sinal. E endinheirada. No café Alexander vi várias pessoas com notebooks (alguns da Apple, inclusive) acessando internet sem fio. O ambiente requintado do lugar não combinava com tudo o que eu tinha visto até então. A julgar pela minha curta estada, a Bolívia parece ter distribuição de renda ainda pior que a brasileira, e muita segregação étnica.

Algo deveras curioso que vi ao sair do café foi o Cristo de Santa Cruz. Indescritivelmente tosco, muito legal! E, raios, vi uma pequena bateria de samba boliviana na rua.

Da av. Monseñor Rivero fui à av. San Martín, que tem diversos pubs e casas noturnas, e muitos boys de vila ouvindo música alta em carros com potentes sistemas de som. Acabei entrando em um pub onde uma banda tocava um rock bem razoável. Mas logo depois que entrei eles anunciaram: agora vamos tocar um samba brasileiro! Diacho. Hora de voltar ao hotel.

No dia seguinte, após um breve passeio a pé e de um lanche no café Alexander, fui ao aeroporto. A volta ao Brasil seria conturbada. O aeroporto Viru Viru estava um caos, porque era o penúltimo dia antes de a Europa passar a exigir visto de entrada dos bolivianos, e muitos estavam tentado aproveitar os últimos momentos para emigrar. Isso somado à crise da LAB (Lloyd Aereo Boliviano), com muitos vôos cancelados, resultou no aeroporto mais entupido de gente que já vi, e isso em tempos de apagão aéreo no Brasil, onde há muitos aeroportos lotados recentemente!

Uma hora e meia perdida entre fila para check-in, fila para pagar taxa de embarque (não entendo por que tantos países insistem em ter um guichê separado para pagamento de taxas de aeroporto, em vez de embutir no custo da passagem), fila para passar pela alfândega e fila para entrar na área de embarque, mais uma hora perdida por causa do atraso do vôo, e muito tempo de viagem, porque eu precisei fazer conexão em Assunção e escala em São Paulo. Resultado: cheguei ao Viru Viru às 14h30 (13h30 no horário da Bolívia) e só estaria no Rio à 00h30. Viva a eficiência do transporte aéreo.

Trívia: Santa Cruz de la Sierra tem algo como 1,5 milhão de habitantes. A Bolívia toda tem menos de 10 milhões. Espalhados no 28º maior país do mundo, tem-se aí um dos países com menor densidade populacional de todo o universo conhecido.